sábado, 21 de novembro de 2009

DIA DA CONSCIÊNCIA HUMANA!

Segue abaixo um extraordinário texto/reflexão de nosso estimado companheiro e artista multimídia Pedro Osmar inspirado pelo 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.

Negro é forte
negro é bom
negro é lindo.

Mas onde estão os negros
que não vem aqui, agora
salvar o índio que sou?

Pedro Índio Negro que sou?

Por favor,
negros fortes
negros bons
negros lindos
me salvem!

Sou da nação jaguaribe
carroção da miséria
civilizada
que desce e sobe ladeiras
neste momento
rumando o infinito
rumando o futuro
futuro sem índios
futuro sem nós.

Por favor
desatem os nós
do sentimento público
da amizade solidária, sincera
agora.

Acudam os que não puderam
chegar a tempo
para o grande baile
das elites
equivocadas elites brancas
equivocadas elites negras
formadas pelo formol
do capital da casa grande.

Voces sabem de mim
eu sou o índio irmão
aquele que o trator da indiferença
e da impunidade pisoteou
e que não pôde mais
chegar a tempo
para essa festa da vida
que voces tanto batucam
nos terreiros.

Eu sou irmão de vocês!
eu sou amigo de vocês, não lembram?
mas sou, principalmente
a luz da floresta devastada
em que nos perdemos
e nos achamos
pelos quilombos
e resistências
a declarar.

Vocês devem lembrar de mim
companheiros, camaradas
pois estivemos juntos
na vida dos quilombos
lutamos todos
em mutirão
em multidão
em vida, em morte
para afirmar a irmandade
dos que pensam e agem
a liberdade.

Hoje vocês assumiram
o poder da senzala
dos quilombos
e da casa grande
o poder da mídia
e das passarelas da moda
estão nas novelas
e no jornal nacional
para dizer que o passado
ficou no passado
e que o presente
é a porta aberta
para poucos
os que não conseguiram chegar
a tempo
na grande festa do capital
a festa das elites brancas
e negras
da arena política de sangrar
índio pobre
índio-índio
índio primeiro
do país e da civilização
que o enlatou.

Índio negro louro
índio negro de olhos verdes
índio negro inimigo
dos próprios negros índios.

Luto para ser o negro gente
negro humano
negro da cor indígena.

Luto para crer na vida em comum
vida coletiva das utopias
democráticas
vida sonhadora das fantasias
socialistas
em ser um povo só
desperto para as coletividades
comunitárias
que berram suas calamidades
brancas
para ninguém ouvir.

Eu só queria que você soubesse
negro bom
negro forte
negro lindo
que ser negro
não é so ser preto
não é só ser axé
não é só ser pelé.

Ser negro
é conseguir ser gente
e agente humano
da inteligência coletiva
e democrática
inteligência socialista
e libertária
em defesa da vida
em condições de todos
unificado em tantos
aberto ao diálogo
com seus pares e afins
índios negros
sem covardia.

E digo isto daqui
da jaula
da miséria iluiminada dos shoppings
do equivoco fabricado pela traição
nos gabinetes
do incêndio repugnante
da vaidade étnica
como se viver
fosse apenas sorrir.

Pedro Osmar, 20.11.2009

João Pessoa, PB